segunda-feira, 28 de maio de 2018

Antes de colapsarem com o Brasil, colapsaram com o PT?

Que o país colapsou já podemos constatar. Que a corja Temer/tucanos/Pedro Parente perdeu qualquer condição de governar é outro fato. Mas o que mais me entristece é começar a constatar que as forças políticas que talvez poderiam apontar uma saída, principalmente o PT, estão na lona, talvez entraram em colapso antes, bem antes.
 
Os propósitos desse texto não é fazer chorumela de que o PT se distanciou das bases, perdeu o vínculo popular, ficou preso aos gabinetes ou outros discursos a reivindicar auto imolações ou à volta de um purismo perdido em um tempo e espaço distantes. Deixo claro antes de tudo, que considero que o PT não perdeu nada disso e continuo considerando como o melhor partido e o mais enraizado nas camadas populares, bem como o que foi apto a realizar as mudanças sociais mais profundas que este país já vivenciou. O que me causa extrema angústia e perplexidade é constatar que o golpe foi cirúrgico, que conseguiu atingir o objetivo de colapsar o comando partidário e suas lideranças.
 
Em um texto de Pritchett de 2009 (The problem with Paper Tigers: Development Lessons from the Financial Crisis of 2008) sobre a crise bancária de um ano antes, o autor se indaga como aquela crise foi possível se iniciar no país mais rico do mundo, onde ele considera existir as instituições mais fortalecidas e organizadas do planeta. A tese dele é que a capacidade de as instituições lidarem com problemas não são lineares podendo ruir caso apareçam pressões e situações não previstas. O autor destaca que o que demora décadas para construir pode ser destruído rapidamente, o que acredita ter acontecido nos eventos de 2008.
 
E para ilustrar os tipos de organização existentes, faz uso de três metáforas. Em primeiro lugar existiriam as organizações dos Keystone cops, uma metáfora dos seriados antigos do cinema mudo, onde um tanto de policiais incompetentes cometiam todo tipo de bobagens no exercício de suas atividades profissionais. Neste caso, de nada adiantava a disposição de recursos, pois a limitação do corpo organizacional se devia à baixa competência individual dos seus membros.
 
O segundo tipo são os chamados tigres de papel, onde os problemas podem não ter nada a ver com limitações intelectuais dos indivíduos, muito pelo contrário. Estas organizações seriam aquelas onde seus membros são altamente capacitados, treinados, com elevadíssimo conhecimento técnico, mas que na hora de executarem as ações costumam ter um desempenho pífio. Isso pode ocorrer por dois motivos principais e correlacionados. O primeiro é a baixa motivação, envolvimento, interesse e comprometimento para com o serviço, onde os profissionais, por motivos diversos, não se sentem parte ou interessados em desenvolver o trabalho. O segundo motivo é quando os profissionais até realizam o serviço, mas desde que sob certas condições, deixando a organização entrar em colapso, caso apareçam situações estressantes.
 
Por fim, o terceiro tipo de metáfora seria o da organização espartana, onde seus membros são altamente dedicados e com sentimentos internalizados de fazer o melhor possível. Neste caso, não existe grande distância entre o aprendizado teórico e o prático, já que as pessoas e o ambiente institucional permitem que suas capacidades sejam exploradas ao máximo. Para o autor, esse é o tipo de organização ideal.
 
Dessa forma, parece que essas metáforas ajudam a elucidar um pouco o que aconteceu com o PT. É possível dizer que no partido, como na maioria das organizações, havia uma mistura desses três tipos de organizações, mas com predominância dos espartanos. Assim, o primeiro golpe se inicia com o mensalão de 2006, atingindo uma a uma as figuras partidárias que coordenavam e lideravam o partido, suas lideranças espartanas, aquelas que davam fibra e se entregavam de corpo e alma aos objetivos partidários. Claro que também eram portadores de um saber técnico, mas o que dava sustento ao trabalho era a convicção e alta relação entre teoria e prática. Os dois retratos perfeitos dessa metáfora seriam José Genoíno e José Dirceu.
 
Como o líder máximo ficou preservado, o qual também se encaixa na categoria anterior, o partido logrou caminhar e até conseguir ainda novos e maiores avanços para o Brasil. Entretanto, devido às baixas do primeiro golpe, foi obrigado a se cercar de figuras mais associadas à metáfora do Tigre de Papel. Vamos reler essa definição e tentar associar alguns nomes: a) “As organizações tigres de papel seriam aquelas onde seus membros são altamente capacitados, treinados, com elevadíssimo conhecimento técnico, mas que na hora de executarem as ações costumam ter um desempenho pífio” (José Eduardo Cardoso e Mercadante?). b) “os profissionais, por motivos diversos, não se sentem parte ou interessados em desenvolver o trabalho (Delcidio do Amaral e Palocci?). c)“os profissionais até realizam o serviço, mas desde que sob certas condições, deixando a organização entrar em colapso, caso apareçam situações estressantes (Dilma, Fernando Haddad e Gleisi Hoffman?).
 
Ressalto que tenho enorme e profunda admiração pela maioria dos nomes acima, especialmente o do Fernando Haddad, mas onde todos eles em alguma medida tiveram dificuldade em lidar com a crise de junho de 2013. É possível ainda que o nível de stress tenha sido tão grande, e de fato o foi, que qualquer um outro teria dificuldade de segurar o rojão.
 
Mas o resultado prático foi que os golpistas, ao invés de continuarem o trabalho de snippers, abatendo as lideranças do partido, conseguiram naquele fatídico episódio, colocar a organização sob stress, a fim de alvejar sua legitimação política frente à sociedade. Ou seja, lideranças não foram perdidas, mas a capacidade de se sustentar e se legitimar junto à sociedade foi quase mortalmente atingida.
 
Como consequência houve a necessidade de se cercar ainda mais de “tigres de papel” e até de “keystones cops”. Na verdade, para ser mais justo e preciso com as metáforas, é importante inserir o José Eduardo Cardoso na categoria dos policiais trapalhões. Afinal, o homem deve ser um caso único na história universal de suprema incompetência. Basta lembrar que sob as barbas do ministro da justiça, policiais federais praticavam barbaridades tranquilamente, como praticar tiro ao alvo com a foto da Dilma ou manifestantes fazendo baderna na porta do seu apartamento.
 
Ainda assim, aos trancos e barrancos o PT conseguiu ganhar as eleições de 2014. Mas acredito que algumas estranhas decisões do período já eram sintomáticas da perda de capacidade operacional da organização para os desafios de então. Afinal, como explicar o fato do partido não ter apresentado o Lula como candidato já em 2014? Como explicar o fato de terem demorado mais de um ano para incorporar o Lula como ministro do cambaleante governo Dilma? Como explicar a manutenção do inoperante José Eduardo Cardoso por tanto tempo?
 
Já ouvi muitas respostas razoáveis para essas indagações, inclusive, de que haveria por parte de alguns “keystones caps” e “tigres de papel” a ilusão de que a Dilma sairia por cima de toda a crise como a incorruptível, mesmo que com Lula jogado aos leões. Mas qualquer que seja a explicação, certo é que a organização perdeu a capacidade de pensar e se articular para a resistência, não usando nem mesmo das principais ferramentas disponíveis quando ainda possuíam a presidência, para preservar seu principal ativo, o Lula. Até acredito que mesmo com outras estratégias, com Lula candidato em 2014 ou ministro da Dilma já em 2015, os desafios seriam enormes e poderiam também fracassar, mas é crível supor que haveria maior capacidade de resistência.
 
De toda forma, com a complacência do Ministro da Justiça e até da cúpula partidária, assistiu-se ao terceiro e último golpe, que se deu com o avanço da Lava-Jato. A falta de uma estratégia de enfrentamento a essa operação era tão visível, que essa linha de frente do golpe chegou a ter apoio entre petistas de até 80% a 90% de seus simpatizantes. Afinal, era vendida como uma operação de combate à corrupção, e por não ter contraponto, bem como com o apoio de todo aparato midiático existente, nadaram de braçada.
 
A consequência foi que a organização sob stress em diferentes frentes, do Impeachment à diversas operações policiais a prender a cúpula partidária e com perseguição ao Lula, perdeu qualquer capacidade de coordenação. Por isso que defendi aqui, a necessidade do PT preservar o seu principal ativo partidário através de um exílio. Em momentos como esse é preciso ter paciência e esperar que o tempo forneça as oportunidades para reorganização e religitimação social. De fora e longe da prisão é possível manter a serenidade para analisar com frieza os fatos e formular estratégias. Ter tempo e elementos para pensar.
 
De dentro da prisão, mesmo a possibilidade de analisar a conjuntura se restringe, sendo quase impraticável tomar decisões e transmiti-las a tempo dentro das necessidades impostas. Talvez, a inoperância observada nesses últimos dias seja resultado dessa falta de agilidade dentro da linha de comando. Afinal, é racional manter o lançamento da candidatura Lula com o país pegando fogo, sofrendo desabastecimento e sem transporte público? Resultado: Atos esvaziados e demonstração de fraqueza.
 
Esperar o desenrolar das coisas, é saber que com o Impeachment o ônus e bônus de governar passaram para o consórcio golpista. Se estes tivessem sucesso, ficaria mais difícil do PT retornar, se fracassassem, novas oportunidades se abririam. E como a corja golpista entrou com a única preocupação de repartir o butim, o fracasso é iminente e vem agora se concretizando com a greve dos caminhoneiros. Estão sem saída porque não possuem projeto de país. E estão num impasse porque precisam manter a entrega aos corsários dos EUA. Rede Globo, STF, toda a cúpula golpista e até o Sérgio Moro já condenaram a continuidade do movimento grevista dos caminhoneiros.
 
Nesse caso, poderia ser uma porta a se abrir para a esquerda, mas ainda não parece ser o caso, pois a esquerda não lidera o movimento, nem parece ter condições para tal nesse momento. As portas parecem mesmo se abrir é para a extrema direita. Pelo andar da carruagem, Janio de Freitas tende a estar certo em sua análise que Bolsonaro e o discurso de intervenção militar irão faturar alto com o episódio. Tempos sombrios se avizinham...
 
Acredito que na atual conjuntura e frente à greve ou locaute dos caminhoneiros, à esquerda caberia o papel de denunciar essa lógica destrutiva do modelo entreguista imposto à Petrobrás, de mostrar à sociedade que reduzir impostos não é solução, mas sim a criação de novos e maiores problemas. Infelizmente, a singularidade que vivemos não está a pedir palavras de ordem unicamente de #LulaLivre. Acho até que parte da solução passa por essa bandeira, mas não pode ser a principal. A esquerda deveria estar reproduzindo os comunicados da FUP e da AEPET, os quais apresentam consistência e esclarecem bem os principais problemas. Acredito que o momento é de apresentar caminhos e soluções para o país.
 
Quanto a apoiar diretamente o movimento grevista (ou locaute), a própria indefinição quanto ao tema já é outro sinal de fragilidade...Alguns acham arriscado apoiar um grupo que ainda não sabemos quem está por trás. Ademais, o timing pode ter passado e a bomba das graves consequências que estão a vir poderia cair no nosso colo. Por outro lado, outros argumentam que o movimento ganhou vida própria e passou por cima de empresários e está a peitar o governo golpista e o stablishment, sendo uma ótima oportunidade para a esquerda capitalizar. Ao final, como conclusão sobram avaliações díspares e nenhuma definição clara.
 
Por último, é impressionante que o PT frente a tamanha debilidade interna, com extrema perda de apoio junto à sociedade (as outras forças políticas também, registre-se), perda de capacidade de articulação e possuindo atualmente uma inacreditável aversão psicótica junto às classe de maior poder aquisitivo e de curso superior, tenha conseguido se convencer que é possível caminhar sem pontes com outros setores, inclusive os de centro-esquerda.
 
É realmente espantoso que o partido que acertadamente realizou todo tipo de coalizão para garantir a governabilidade, apoiando até mesmo Sarney contra Flávio Dino do PC do B no Maranhão, tenha agora lideranças a desdenhar de uma possível aliança com Ciro Gomes. Desdenho esse que contaminou uma parte da militância, a qual passa horas a apontar todas suas baterias contra o cearense do que contra o fascista Bolsonaro. Nesse sentido, acredito que essa última ofensiva da prisão do Lula possa estar trazendo elementos de uma organização “keystones Cops” ao PT, implodindo pontes necessárias que terão que ser reconstruídas em algum momento, nem que seja por questão de sobrevivência física dos seus militantes.
 
Apesar dos pesares e se as eleições vierem a acontecer, ainda acredito e tenho esperança que as exigências da realidade colocarão toda a centro-esquerda unida, talvez até no primeiro turno. O problema é que se essa união vier no segundo turno, pode ser que não venha a acontecer em torno de Ciro Gomes ou o candidato do PT a substituir Lula, pode vir em torno de Marina Silva, Geraldo Alckmin ou Dória, candidatos de direta a disputar com a suprema ignorância conhecida também como Bolsonaro.

Um comentário:

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